(2) OMD K70+

O dia da prova começou cedo. A noite foi curta e mal dormida. Já não me lembro muito bem como sai de casa, mas lembro que estive a preparar e a rever a preparação do equipamento até tarde. Aquele nervoso miudinho a comandar. Sabia a dada altura que os atletas do K160+ já andavam pela serra e os do K100+ estariam a sair. Eu preparei a mochila e os alimentos. Preparei também uma possibilidade de abastecimento para a Torre. As horas iam passando e o descanso a ser adiado. Quando finalmente cheguei à cama o sono não quis nada comigo. Mas lá me deixei dormir e lá acordei ao som do despertador, que raramente uso.
A viagem para Seia correu bem, pelo caminho um telefonema de casa: já tinham acordado e estavam a chamar por mim. É uma sensação inexprimível, fantástica. Lembrei-me também que não tinha posto a manta de sobrevivência na mochila e que fazia parte do equipamento obrigatório. Chegamos folgados no tempo para ainda ir beber um café. Depois os últimos preparativos: levantar dorsais, besuntar com protector solar, ajustar o equipamento porque a corrida vai começar.
Já na zona da partida, a poucos segundos de começar, uma pausa no tempo para chamar e cumprimentar o Gomes. Já não o via há 20 anos. Reconheci-o logo. Ele demorou um pouco a reconhecer-me.

Partimos pela hora prevista, os primeiros quilómetros são para aquecer.

Um abastecimento cedo, muito bom, inopinado e não oficial, oferecido pela Casas do Pastor, na Póvoa Velha. Tive oportunidade de beber um café e de comer uns bolinhos e de conversar com aquelas pessoas muito simpáticas e hospitaleiras e de ouvir o Hugo a pedir para me despachar que ainda faltava bastantes quilómetros. Eu ficava ali mais uns tempos mas tive que me pôr ao caminho que era de longe.

Nesta parte do percurso uma nota para o Hugo sobre a resistência mental (eu às vezes penso que percebo muito disto e mando bitatites), isto devido ao comentário de um companheiro que "estava a poupar as forças para as subidas finais": é muito perigoso pensar assim! Neste momento e apesar de ainda estar fresco, não vou a poupar nada, vou a fazer a minha corrida, vou no meu máximo, só não estou na frente da corrida porque efectivamente não tenho "pedalada" para acompanhar os tipos que nos primeiros 100 metros dão logo 500 de avanço. Pensar assim, na poupança das forças, é a maneira mais rápida que um tipo tem de desistir desta prova. Parecendo que não este companheiro já levava uns 50 kms na "cabeça", apesar de levar só uma meia dúzia nas "pernas". Há quem diga que fazer ultras é 10% físico e 90% mental, encontro esta relação de percentagem em muitos casos do desporto, não acredito nesta relação mas o certo é que quando a "cabeça" não quer as "pernas" não dão nem mais um passo...

E lá fomos avançando, pacito a pacito, até ao Sabugueiro e depois do Sabugueiro até ao Vale do Rossim. Sempre dentro do tempo previsto e sem dificuldades acrescidas. Agora é que se ia iniciar a verdadeira prova. Vale do Rossim - Torre seria a primeira grande dificuldade do dia. O calor já me vinha a atormentar quase desde a partida, mas esta é a altura do dia mais quente. Para complicar vamos passar uma zona que não tem sombras, durante bastante tempo não vamos ter abastecimentos, isto quer dizer que os cerca de litro e meio de líquidos que eu levo tem de durar para umas boas horas. Serão uns 17 km e cerca de 933 m de desnível positivo, mais 473 m de desnível negativo. Somando o calor, a altitude e o sol a queimar, estão reunidas as condições para a coisa correr mal. O incentivo seria chegar à Torre e ter uma grande equipa de apoio à espera.

Apesar da dificuldade esperada que foi fazer esta travessia, esta zona é de elevada beleza. Nós passamos pelo curral do Martins e descemos à Nave da Mestra pela fenda da rocha. Este local pede sempre um descanso, um abrir de farnel e comer sem restrições dietéticas. Mas claro, a ocasião não era propícia a isso. Tudo o que fiz foi refrescar-me na ribeira cristalina que lá passa.
Deixo aqui um bom trilho para se passar um excelente dia com amigos, além do Curral do Martins e da Nave da Mestra ainda se passa pela famosa Lagoa dos Conchos, este trilho começa e acaba na Lagoa Comprida. Para que não haja surpresas desagradáveis é sempre bom consultar o tempo aqui no Vitor Baia Meteo e acreditar no que lá está escrito.

Como esperava, fiquei sem água, mas  lá consegui chegar à Torre sem grande sofrimento. Na Torre esperava a melhor equipa de apoio do mundo e arredores, com beijos e abraços e uma felicidade tão grande de me verem que me senti o Rei daquelas terras. Também tinham pepsi fresca, piza, aletria e mais coisas boas que comi com muita satisfação, após ter ido "dar" o número ao controlo no posto da GNR.

(Cont.)

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